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7ª edição / Em busca de um Estado mais competitivo

Reza a lenda futebolística que, em seu terceiro jogo na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, a Seleção Brasileira enfrentou um adversário temível, menos pelo talento individual de seus jogadores do que pela disciplina e capacidade de organização.

A equipe soviética, dizia-se, tinha um estilo de jogo norteado pelo planejamento centralizado e pelo coletivismo do chamado “socialismo real”. E, pelo menos segundo boa parte da crônica esportiva brasileira, os soviéticos teriam estudado minuciosamente a nossa seleção (quiçá com auxílio de agentes da KGB), formulado e treinado uma estratégia de jogo matematicamente infalível para conter nossos craques e ganhar a partida.

Como bem sabem aqueles que cultuam a história do futebol, ao entrar em campo prontos para ligar a sua máquina de jogar, os “frios” soviéticos (tão diferentes dos russos contemporâneos!) depararam-se com dois adversários inesperados e desconhecidos, escalados de última hora como titulares. Um franzino adolescente com cara de criança e um rapaz de pernas tortas que não passaria pela primeira triagem dos programas de formação de atletas de potências olímpicas como a União Soviética. Pelé e Garrincha.

Segundo testemunhos, o resultado do jogo, 2 a 0 para o Brasil, não expressa o contraste de talentos e habilidades presenciado pelo afortunado público reunido no Estádio Ullevi, em Gotemburgo.

O episódio juntou-se, no imaginário nacional, a outras parábolas cuja “moral” sabemos de cor: podemos ser uma sociedade meio desorganizada, mas o talento e a criatividade individuais nos redimem e garantem o nosso lugar no mundo. Uma autoimagem que tem lá sua graça, mas que também se espelha numa realidade social na qual, entre os despossuídos, só os dotados de certos
talentos especiais podem almejar um lugar ao sol.

Quem somos e podemos ser
Hoje, em meio aos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, o Brasil vê-se sob o risco de exibir ao mundo uma face cujo anacronismo e cuja ineficiência fazem lembrar não a respeitável esquadra soviética do lendário goleiro Yashin, mas instituições burocráticas típicas de uma ordem social incompatível com inventividade, ousadia e inovação.

Ao identificar e avaliar os desafios que se impõem ao País, a maioria dos textos desta edição aponta um obstáculo comum: a lógica formalista dominante em parte da legislação e, sobretudo, em setores vitais da ação estatal. A título de combater o compadrio e a corrupção, e manter o poder e os serviços públicos no trilho da legalidade e do atendimento às demandas sociais – causas não apenas legítimas, como indispensáveis –, essa lógica mostra-se cada vez mais inadequada, onerosa e ineficaz nos atuais contextos internacional e brasileiro.

Para vencer o jogo na busca de mais justiça social e desenvolvimento consistente e sustentável, precisamos urgentemente de mais estudo, planejamento, organização e controle social centrado em resultados. Precisamos também de mais liberdade e incentivo ao talento e à invenção.

Não há Garrincha ou Neymar que resolva, num lampejo de gênio, falta de estádios, aeroportos e planejamento urbano. Como não haverá – tomara! – organização defensiva capaz de segurar um bom time brasileiro abrilhantado pelos nossos novos craques.

Leia a edição completa aqui.

Boa leitura.